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As estimativas iniciais de produção da safra de milho 2022/23 se confirmam conforme a colheita avança. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima uma produção de 129,9 milhões de toneladas, uma quantidade continua a ser revisada para cima a cada novo relatório de safra.

O mercado e a exportação de milho também são favoráveis para o produtor rural brasileiro, visto que seus principais concorrentes, Argentina e EUA, apresentam quedas significativas na produção e nas exportações. Mesmo com o preço das commodities em baixa, é possível alcançar boa rentabilidade por conta dos resultados da produção.

O impressionante avanço da produção de milho do Brasil nos últimos anos em muito se deve à performance do manejo. Um exemplo é o controle de pragas: a cigarrinha-do-milho, que representou um problema grave em 2021/22, foi mantida abaixo do nível de dano econômico em grande parte das regiões produtoras.

Tudo sobre o andamento da colheita de milho 2022/23

A colheita da primeira safra de milho foi finalizada em julho, de acordo com os dados da Conab. O que impressiona é a melhoria na eficiência de produção em comparação com a safra 2021/22:

  • a produtividade manteve-se estável em relação à safra anterior, diminuindo na mesma proporção da redução de área cultivada;
  • a produção teve um incremento de 9,37%, alcançando 27.373,2 milhões de toneladas.

Como exemplo de eficiência de manejo, cabe destacar os bons resultados dos produtores do Rio Grande do Sul em relação à cigarrinha-do-milho, que não apresentou grandes problemas sanitários às lavouras pela excelência das medidas de controle adotadas.

Quanto ao milho safrinha, que corresponde a 77,08% da produção total do grão no Brasil, a colheita avançava para 84% em 26 de agosto, um pouco aquém do andamento da safra no mesmo período do ano passado, em virtude de atrasos no cultivo de soja antecedente. De toda forma, o comparativo com a safrinha 2021/22 indica avanços ainda mais animadores do que os comentados sobre a primeira safra:

  • houve um aumento de cerca de 4,5% na área plantada e de 11,6% em produtividade;
  • o incremento na produção foi bastante expressivo (+16,6%), com um total estimado em  100.183,6 milhões de toneladas de milho na segunda safra.

Infográfico

O Paraná é um exemplo de resiliência e eficiência contra as pragas em prol da manutenção da produtividade. Apesar da redução de área no Estado, a produção se manteve em alta, com os produtores enfrentando o desafio de controlar a cigarrinha-do-milho, que causou prejuízos na safra anterior.

A pressão da praga é maior na safrinha, considerando que as populações aumentam durante a primeira safra e migram para as áreas com a cultura recém-instalada. Em Goiás, a cigarrinha também gerou perdas em 2022, mas, desta vez, não representou grande ameaça, sendo mantida sob controle mesmo em áreas que chegaram a apresentar alta pressão, devido à eficiência no manejo e à boa quantidade de chuvas no início do ciclo, o que contribuiu para evitar o ataque.

Diante desse cenário, a produção de milho no Brasil avança na série histórica, melhorando a autonomia do país. Segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), as importações de milho pelo Brasil caíram muito, com estimativas de adicionar apenas 1 milhão de toneladas.

Por outro lado, há aumento nas exportações, enquanto os EUA, principal concorrente no mercado internacional, recua em todos os números, menos nas importações, visto que o clima está limitando a capacidade produtiva do país. O mesmo se verifica para a Argentina, que apresentou quebra de safra por conta das condições climáticas, abrindo mais espaço para o milho brasileiro nas negociações.

O relatório da USDA de agosto de 2023 (WASDE – World Agricultural Supply and Demand Estimates) aponta a seguinte relação:

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*Estimativas; **Projeções. Comparativo entre as três safras de milho, EUA, Argentina e Brasil. Elaborado pela redação. Fonte: USDA, ago., 2023.

Os dados selecionados demonstram a vantagem do Brasil sobre os principais concorrentes no mercado de milho internacional. Apesar de as projeções indicarem recuperação para EUA e Argentina na safra 2023/24 (por conta de aspectos climáticos), os produtores brasileiros têm mais oportunidades de negociação nos próximos meses, pela capacidade de abastecer os consumidores mundiais.

Assim, é possível ter boa rentabilidade para investir na safra seguinte, mesmo com os preços do milho em queda.

Comercialização e preços do milho em 2023

A queda de produtividade dos EUA, especialmente em função do clima, fez com que o país aumentasse a área plantada com milho para 2023/24 – 38 milhões de hectares, a terceira maior dedicada à cultura desde 1944 –, a fim de recuperar a oferta do país. Ainda assim, o estabelecimento inicial das lavouras ocorreu sob condição de seca em grande parte das regiões produtoras.

No final de agosto, boa parte das lavouras de milho estadunidenses já estavam sendo colhidas, mas as condições de desenvolvimento se mantiveram pouco favoráveis ao longo da safra. Um monitoramento da USDA de 28 de agosto apontava que somente 56% das lavouras apresentavam-se entre boas ou excelentes condições.

Todo esse cenário, somado à queda do dólar e à lentidão nas comercializações das commodities agrícolas de forma geral, empurra os preços do milho para baixo. A USDA registrou os primeiros movimentos de queda do preço do milho (dólar/bushel) na Bolsa de Chicago em maio de 2023, e a tendência se manteve nos meses seguintes, com -12% entre junho de 2022 e de 2023:

Infográfico 3

Preços mensais (jan – dez) do milho no mercado internacional em dólar por bushel. Comparativo entre 2021, 2022 e seis primeiros meses de 2023. Fonte: USDA, 28 de julho de 2023.

A oscilação da commodity influencia os preços internos e a rentabilidade do produtor rural. Quem ainda não havia feito vendas antecipadas encontrou condições pouco favoráveis para as negociações de milho em julho.

O momento não é nada oportuno para a brusca queda dos preços, visto que, com a colheita da safrinha em andamento, é preciso escoar a produção, a fim de evitar problemas de logística e dificuldades para iniciar a próxima safra.

De acordo com o Indicador do Milho da Esalq, o preço da saca em agosto de 2023 é o menor dos últimos dois anos – R$ 98,64 em agosto de 2021 e R$ 53,31 em agosto 2023, uma variação de 45,95% –, com bruscas oscilações nos 60 dias que antecederam o dia 28 de agosto.

Infográfico 4

Infográfico 7

Fonte: CEPEA, ESALQ/USP, 28 de agosto de 2023.

As commodities ditam os preços dos produtos agrícolas globalmente, com base no dólar, na oferta e na demanda, de maneira que o cenário de baixa não é exclusivo para o produtor brasileiro, que, na verdade, tem vantagem no mercado internacional pela qualidade e pela quantidade de grãos ofertados.

Essa competitividade brasileira no agronegócio é muito importante para a economia nacional, sustentando a indústria e a segurança alimentar da população mundial. Isso só é possível pela eficiência de manejo que os produtores têm obtido no campo.

Produção de milho no Brasil pode ter de enfrentar um novo desafio no controle de pragas

A safra de milho 2022/23 foi marcada pela excelência no controle da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), uma das pragas mais preocupantes para a cultura por causar danos diretos durante todo o ciclo da lavoura e transmitir patógenos causadores de doenças como os enfezamentos pálido e vermelho e a risca.

Bastante incidente na região Centro-Sul, especialmente nos Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, a cigarrinha-do-milho, que foi uma grande preocupação em 2022, não representou riscos de perdas nesta safra. No entanto, uma nova cigarrinha-do-milho chama a atenção de especialistas e produtores.

A espécie Leptodelphax maculigera foi identificada em 2023 no Brasil. De origem africana, esse inseto é muito parecido com D. maidis, o que pode significar que já estava presente nas lavouras em safras anteriores, embora não tivesse sido ainda realizada a devida diferenciação.

Cigarrinha-do-milho

 

Comparação visual entre as duas espécies de cigarrinha-do-milho. Fonte: Ferreira, et. al., 2023.

Essa descoberta pode gerar novos delineamentos para o manejo da cultura, visto que há um novo vetor para as doenças citadas. Além disso, a nova espécie tem o diferencial de estar presente também em outras plantas, como capim-elefante e braquiária, o que facilita ainda mais sua disseminação.

O registro de L. maculigera foi em Goiás, e há chances de sua pressão aumentar na próxima safra, assim como de os focos da praga se expandirem. Assim, reforça-se a importância de os produtores reconhecerem o problema e considerarem a nova cigarrinha-do-milho em seus programas de manejo, como medida de controle dos vetores dos enfezamentos e também para evitar perdas geradas pelos danos diretos causados pelas pragas, especialmente no fim do ciclo da cultura.

Pesquisas ainda estão em andamento para compreender o comportamento dessa espécie e as melhores práticas para controlá-la, e o comprometimento do produtor rural nessa jornada é muito importante, por meio de identificação de plantas afetadas pela praga e notificação aos centros de pesquisa responsáveis, por exemplo, a Rede CEM (Complexo de Enfezamento do Milho).

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De olho na safra 2023/24

Com a finalização da colheita do milho safrinha, já é hora de começar a pensar na próxima safra. Os dados de preços, mercado, produção e comercialização apresentados neste artigo auxiliam nas tomadas de decisão ao longo dos últimos meses de 2023 e início de 2024, servindo também para atualizar os produtores sobre o contexto da cigarrinha-das-raízes, a principal ameaça à produtividade da cultura.

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